sábado, janeiro 11, 2025

ana belén m. vázquez


HABLAS sola
para esquivar las letras de la muerte.
 
Intentas pronunciar tu salvación.
 
Leve y falsa
como la pluma del pájaro
 
              enjaulado en la niñez
 
*
 
TODO tu cansancio te amortaja.
 
Su daño anula tus sentidos
y pudrirá tu sombra.
 
No escuchas
las voces amables de tu lengua.
 
Te resbala el abrazo.
 
                       Tu condena:
                       escupir palabras. 
 
 

 
 
Falas sozinha
para evitar as letras da morte.
 
Tentas pronunciar a tua salvação.
 
Leve e falsa
como a pena do pássaro
 
                      enjaulado na infância
 
*
Todo o teu cansaço te amortalha.
 
O seu estrago anula os teus sentidos
e apodrecerá a tua sombra.
 
Não ouves
as vozes amáveis da tua língua.
 
Inanima-te o abraço.
 
                         A tua sentença:
                        cuspir palavras.
 

sexta-feira, janeiro 10, 2025

sarah silva


Memoria hepática
 
A los diez años viví en el hígado.
Mi casa visceral me situaba
en un comedor de madera
con sillas completas y una rota.
Ese era mi asiento. Mamá
era la coordenada que buscaba
sacarme del exilio de la memoria viral.
 
A los diez años viví desde el hígado
cebado con higos antivirales.
Mil quinientos gramos rojos inflamados
comían exceso de dulces, juegos
y tareas escolares. Resultado:
color amarillo en ojos y piel,
insuficiencia y resistencia a la carne.
 
A los diez años, el hígado
secuestrado. Aquí adentro
ya era afuera. El hogar que me cubrió
en un plato servido por mamá.
 
Desde los diez años, no me gusta el hígado.
 
 

 
Memória hepática
 
Aos dez anos vivia no fígado.
A minha casa visceral colocava-me
numa mesa de comer em madeira
com cadeiras inteiras e uma partida.
Esse era o meu assento. A minha mãe
era a coordenada que tentava
extrair-me do exílio da memória viral.
 
Aos dez anos vivi do fígado
engordado com figos antivirais.
Mil e quinhentos gramas vermelhos inflamados
comendo doces em excesso, jogos
e tarefas escolares. Resultado:
cor amarela nos olhos e na pele,
insuficiência e resistência à carne.
 
Aos dez anos, o fígado
sequestrado. Aqui dentro
já era fora. O lar que me cobriu
num prato servido pela minha mãe.
 

quinta-feira, janeiro 09, 2025

clara ysé

 
Brûle
Brûle et n’aie pas peur de brûler
La vie est longue
Courte aussi
Et les feux sont des alliés sur la route
Contemple les hauteurs nouvelles
Écoute les sons inconnus et les lumières fantomatiques
Brûle la terre et le ciel et la nuit et le jour aussi
Pour découvrir ce qui se cache sous les choses
Brûle, aime, et sois patiente mon ange
J’ai cousu des armes au revers de ta chemise
Des armes muettes qui agissent comme des capteurs de feu
L’amour au creux de ta paume
Déposé un jour de tempête
De grands trésors sont à même la tristesse
pour qui sait chercher
Embrasse la nuit et tu verras naître l’aube entre tes bras
L’azur
Et les premiers cris des oiseaux
 
 

 
Arde
Arde e não tenhas medo de arder
A vida é longa
Curta também
E os fogos são aliados no caminho
Contempla as alturas novas
Ouve os sons desconhecidos e as luzes fantasmagóricas
Queima a terra e o céu, e a noite e o dia também
Para descobrir o que se esconde por baixo das coisas
Arde, ama e sê paciente meu anjo
Cosi armas nas costas da tua camisa
Armas silenciosas que atuam como sensores de fogo
O amor na concha da tua mão
Deposto num dia de tempestade
Grandes tesouros são idênticos à tristeza
para quem sabe procurar
Beija a noite e verás nascer a alba entre os teus braços
O azul
E os primeiros gritos dos pássaros

quarta-feira, janeiro 08, 2025

maia camila león


Un cuerpo en el bosque
duermo en el crepúsculo del bosque con los ojos abiertos
las setas sacian su hambre con mi figura desnuda
al menos ahora solo soy un cúmulo de carne
a la que ya no le van
a preguntar que vestía cuando le quitaron las estrellas
 
 
 
 
Um corpo na floresta
durmo no crepúsculo da floresta de olhos abertos
os cogumelos saciam a sua fome com a minha figura nua
pelo menos agora sou apenas um monte de carne
à qual já não
perguntam o que vestia quando lhe tiraram as estrelas

terça-feira, janeiro 07, 2025

sara aquino


Puente de 5 señores
 
¿Usted cree que hace un mes
mataron a mi madre?
La regurgitó el río
mientras abrazaba a mi hermanita
y yo no las reconocía
mi hermanito tampoco,
pero sabíamos que estaban muertas.
Todos les lloramos
hasta papá.
Yo creo que por eso nos olvidó en el mismo río.
 
 
 
 
Ponte dos 5 senhores
 
Você accredita que há um mês
mataram a minha mãe?
Foi regurgitada pelo rio
enquanto abraçava a minha irmã
não as reconheci
o meu irmão também não,
mas sabíamos que estavam mortas.
Todos as choramos
até o pai.
Acho que por isso nos esqueceu no mesmo rio.
 

segunda-feira, janeiro 06, 2025

marta castaño


Dormida la escucho cantar
una canción a los muertos
ella sabe que la vigilia es
el único lugar en el que se puede
lidiar con los que se han ido
 
traté de buscarme en esa casa
pero solo encontré polvo
un nido vacío
y los mismos fantasmas
 
a veces me pregunto
si estoy despierta
si las moscas que revolotean
por el salón
son de verdad
si los lobos siguen acechando
en el jardín
son de verdad
si lo que devora
mi estómago
es una criatura o soy yo misma
la criatura
si fue un sueño o volverán
a cantar los petirrojos
 
se hace de día y salgo a caminar
en el patio encuentro
un nido vacío
y los mismos fantasmas
 
al volver a casa limpio el polvo
canto la misma canción a los muertos
pero no soy capaz de ahuyentar
a los fantasmas
ni de sacudir las ramas
para que caigan los nidos.
 

 
 
A dormir ouço-a cantar
uma canção para os mortos
ela sabe que a vigília é
o único lugar onde se pode
lidar com os que se foram
 
tentei encontrar-me naquela casa
mas só encontrei pó
um ninho vazio
e os mesmos fantasmas
 
Às vezes pergunto-me
se estou acordada
se as moscas que esvoaçam
pelo salão
são reais
se os lobos continuam à espreita
no jardim
são reais
se o que come
o meu estômago
é uma criatura ou sou eu mesma
a criatura
se foi um sonho ou voltarão
cantar os tordos
 
nasce o dia e saio para caminhar
no pátio encontro
um ninho vazio
e os mesmos fantasmas
 
quando voltar para casa limpo o pó
canto a mesma canção para os mortos
mas não sou capaz de afugentar
os fantasmas
nem de sacudir os galhos
para que caiam os ninhos.