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domingo, abril 21, 2024

marisa calero

 Bendita imperfección
 
Aprendí las palabras como un maná de almíbar
que descendiera lento sobre mi raciocinio
y acabara enredado en mi garganta
saciando, al respirar, el hambre de mis ojos.
 
Crecí con ellas dentro,
fueron mis alas, mi música, mis horas.
Siempre temí soltarles las amarras
por si alzaban el vuelo en un descuido
con un temblor de pájaro o cometa
y, huérfana de verbos y de nombres,
volviera yo al primitivo caos.
 
Nunca son bienvenidos mis silencios.
Lo sé.
Y sé que las palabras se comparten
como comparto el pan, o la tristeza.
Pero ¿cómo dejar salir a las que siento mías
y son, al fin, la herencia de mis antepasadas?
 


 
Bendita imperfeição
 
Aprendi as palavras como um maná em calda
que descesse lento sobre o meu raciocínio
e acabasse enredado na minha garganta
saciando, ao respirar, a fome dos meus olhos.
 
Cresci com elas dentro,
foram as minhas asas, a minha música, as minhas horas.
Sempre tive medo de soltar as amarras
caso levantassem voo por descuido
com um tremor de pássaro ou cometa
e, órfã de verbos e de nomes,
voltasse ao caos primitivo.
 
Nunca são bem-vindos os meus silêncios.
Bem sei.
E sei que as palavras se partilham
como partilho o pão, ou a tristeza.
Mas como deixar sair aquelas que sinto minhas
e que são, afinal, a herança das minhas antepassadas?