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sexta-feira, dezembro 13, 2024

francely saharith navarro


ETERNA
 
Voy a cerrar la puerta del cuarto por un tiempo,
ahora mi mama ocupa la casa y ya no necesito
ser humana. Fin.
 
Aquí seré escamas de pescado esparcidas por el suelo,
una manta de algodón olorosa a formalina,
una telaraña en la pared o una sombra de conejo,
seré polvillo, gotera, una canasta de ropa blanca
con olor a moho, seré cualquier cosa en este espacio pequeño,
donde no alcanzan más de cero y menos que nada.
 
Y desde la ventana, si es que me quedan ojos
después de un siglo, podré verla tomando
las riendas de mis muertes, regando mis destinos,
cocinando siempre lo mismo por si decido salir
a cortar estrellas, por si todas mis partes se unen
para salvarme.
 
Ella sabe que no nací ni envejecí bien,
que al final me oculté de los niños y sus preguntas,
niños crueles que roban soledades, que después de
enterrar al último perro, busqué acuarios a la vuelta
de la esquina y jamás aparecieron…
que huí de las palabras y las reuniones,
despejando cementerios e iglesias de mi presencia,
cada vez más, cada vez más conflictiva y más rugosa,
malvivida…
 
Ya la puerta está cerrada, aquí está ella,
desde ahora ocupa la casa que soy,
como si yo no fuera un monstruo.
 
 
 
 
ETERNA
 
Vou fechar a porta do quarto por uns tempos,
agora a minha mãe ocupa a casa e já não preciso
de ser humana. Fim.
 
Aqui serei escamas de peixe espalhadas pelo chão,
uma manta de algodão com cheiro de formalina,
uma teia de aranha na parede ou uma sombra de coelho,
serei poeira, goteira, uma canastra de roupas brancas
com cheiro a mofo, serei qualquer coisa neste pequeno espaço,
onde não atingem mais do que zero e menos do que nada.
 
E da janela, se ainda tiver olhos
após um século, eu posso vê-la tomar
as rédeas das minhas mortes, a regar os meus destinos,
cozinhando sempre o mesmo caso eu decida sair
para cortar estrelas, caso todas as minhas partes se unam
para me salvar.
 
Ela sabe que não nasci nem envelheci bem,
que no fim me escondi das crianças e das suas perguntas,
crianças cruéis que roubam soidões, que depois
de enterrar o último cão, procurei aquários no
canto e nunca apareceram...
que eu fugi das palavras e das reuniões,
limpando cemitérios e igrejas da minha presença,
cada vez mais, cada vez mais conflituosa e mais áspera,
subvivente...
 
Já a porta está fechada, aqui está ela,
a partir de agora ocupa a casa que sou,
como se eu não fosse um monstro.