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domingo, janeiro 28, 2024

daniela martín hidalgo

 
Los dones
 
Dos grúas muy juntas
bajo la lluvia, voces
en una conversación banal
sobre el tiempo, el humano
renqueo del perro cojo.
 
Hay una cuerda que vibra
y que en un momento se rompe;
coser hasta que se acaba el hilo
–el dibujo nunca es completo–.
 
Dices pero una ráfaga de aire
y no logro escuchar tus palabras,
enfrente una pared de cemento
que ha empezado en arenilla a deshacerse,
“¿Te acuerdas de Manolín?”.
 
Las grúas giran –sacacorchos–,
gotas muy finas sobre la acera.
“No es la abundancia”, explicas
sobre ese calor tuyo que ha quedado
palpitando improductivo en la bufanda.
 
Y la compañía,
las voces esa voz que advierte
que el regalo ha de seguir desplazándose,
un concreto ceñidor de barro
transportado a través de manos pequeñas.
 
Fíjate en la bóveda de la estación,
luciérnagas verdes de taxis que pasan,
ese ángulo la sombra donde las cosas
comienzan a hacerse y deshacerse.
 
De madrugada la música esa música,
una araña que trepa en la oscuridad
de los ojos cerrados.
 
Resulta extraño estar aquí
y no estar solos.
 
 
Os don(o)s
 
Dois guindastes muito juntos
debaixo da chuva, vozes
numa conversa banal
sobre o tempo, o humano
cambaleio do cão coxo.
 
Há uma corda que vibra
e que num momento se parte;
costurar até acabar o fio
-o desenho nunca está completo.
 
Dizes mas uma rajada de ar
e não consigo ouvir as tuas palavras,
diante de uma parede de cimento
que começou a desfazer-se em cascalho,
"Lembras-te de Manolin?".
 
As gruas giram - saca-rolhas -,
gotas muito finas no passeio.
"Não é a abundância", explicas
sobre esse teu calor que ficou
pulsando improdutivo no cachecol.
 
E a companhia,
as vozes essa voz que adverte
que a oferta vai continuar a deslocar-se,
uma concreta argamassa
transportada através de mãos pequenas.
Repara na abóbada da estação,
pirilampos verdes de táxis que passam,
esse ângulo a sombra onde as coisas
começam a fazer-se e a desfazer-se.
 
De madrugada a música essa música,
uma aranha que trepa na escuridão
dos olhos fechados.
 
É estranho estar aqui
e não estarmos sozinhos.