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sexta-feira, agosto 23, 2024

maría montero


Heroína blues
 
Dan terror las señoras perdidas en la playa, las niñas con mucho pelo, los cubos vacíos.
Dan terror los compañeros de universidad, los cantantes malos y los hombres que, para llegar a viejos, envejecen.
Da terror saber que un libro es bueno sin haberlo leído, sentirse agradecido cuando alguien te mira equivocadamente, que la gente te salude en un país extraño.
Dan terror el uso del plural y las uñas recién cortadas.
Da terror estar siempre de espaldas o estar en un cuarto de hotel con toda la vida por delante.
Da terror todo lo que vive con ganas de quedarse, dormir más de 24 horas, que nadie se dé cuenta que los negros no tocan heavy metal.
Da terror no enamorarse de los amigos, no comer aguacate y no sentirse partido por el mar.
Dan terror las cosas que no duelen: como llegar a un lugar sin saber cómo. Incluso sabiéndolo.
 

 
 
 
Heroína blues
 
São assustadoras as senhoras perdidas na praia, as meninas com muito cabelo, os baldes vazios.
São assustadores os colegas de faculdade, os maus cantores  e os homens que, para chegar a velhos, envelhecem.
É assustador saber que um livro é bom sem o ter lido, sentir gratidão quando alguém nos olha de forma errada, que as pessoas te cumprimentem num país estranho.
É assustador o uso do plural e as unhas recém-cortadas.
É assustador estar sempre de costas ou estar num quarto de hotel com toda a vida pela frente.
É assustador tudo o que vive com vontade de ficar, dormir mais de 24 horas, que ninguém dê conta que os negros não tocam heavy metal.
É assustador não nos apaixonar-nos pelos amigos, não comer abacate e não nos sentirmos partidos pelo mar.
São assustadoras  as coisas que não doem: como chegar a um lugar sem saber como. Mesmo sabendo.