domingo, abril 28, 2024

maría teresa sánchez



LA PUERTA
 
He cerrado la puerta. Nadie entre,
Nadie por su dintel penetre.
Con dedos de silencio
Mis recuerdos dibujan sus fantasmas.
 
Ni el viento
Conquistará mi férrea Fortaleza,
mi sola, invulnerable ciudadela,
con sus soldados altos de silencio.
 
He cerrado la puerta. Afuera
Piafan finos caballos de Guerra,
Hombres preparan fleches y ballestas.
 
Y me asomo de pronto. Abro la puerta:
nada turba en su paz mi ciudadela.
Pero en sus sótanos, hondos secretos
Bullen como fantasmas, los recuerdos.

 
 
 
A PORTA
 
Fechei a porta. Ninguém entre,
Ninguém pelo seu dintel penetre.
Com dedos de silêncio
As minhas lembranças desenham os seus fantasmas.
 
Nem o vento
Conquistará a minha férrea Fortaleza ,
a minha única, invulnerável cidadela,
com os seus soldados altos de silêncio.
 
Fechei a porta. Lá fora
Piafam finos cavalos de Guerra,
Homens preparam flechas e bestas.
 
E de repente desponto. Abro a porta:
nada perturba na sua paz a minha cidadela.
Mas nas suas caves, fundos segredos
borbulham como fantasmas, as lembranças.

sábado, abril 27, 2024

isaura duarte

 Recuerdo un cuerpo inclinado ante el alféizar, repasando los botones de una blusa derramada en café, alguien corría haciendo sonar silbatos, Chéjov escribió El Oso, ¿de quién era La Señorita Julia? ¿Has leído dramaturgia? ¿Sí crees que existe la escritura, la vida, la fe, las cavilaciones, el orden simple, la manzana medio podrida? ¿Soy yo… una persona? ¿Una capilla sintoísta? ¿La sustancia? ¿El cerebro del viento? ¿Existo cien mil metros bajo tierra? ¿Existo?​​

–Supongo que no lo habrás visto, has sido inundada por la riada con las manos entre tu vello púbico, cálido y húmedo, el sauce lamía tus pezones, el campo visual de tu conciencia se amplificaba, tu lengua se olvidaba de tu nombre, los rumores se expandían en tu mente, las voces altas tendían tus manos hacia adelante, fuiste ojeando las páginas del mostrador, cada una de las páginas era una fotografía de cabellos canos mirándose las manos perplejas teñidas de blanco con una etiqueta y una apertura por detrás.​​

Eras un yeso muerto sobre un piano verde vertical, pronto llegará la tarde, los goterones de agua sobre el cristal, la vuelta de la llave en la cerradura, el volumen apagándose en el pulso de las teclas, el súbito recuerdo del beige de los botones de aquella niña a la que le derramaron el café, la fijeza del largo clavo en la pared, donde ha desaparecido la marca de nuestro retrato…​​

La puerta de salida cerrada.

La puerta de entrada cerrada.

    Todo permanece igual…​​

 

 

Lembro-me de um corpo curvado no peitoril, a olhar para os botões de uma blusa derramada pelo café, alguém corria soltando apitos, o Chekhov escreveu O Urso, de quem era a Menina Julia? Leste dramaturgia? Achas que existe escrita, vida, fé, ruminações, ordem simples, maçã meia podre? Sou eu ... uma pessoa? Uma capela Xintoísta? A substância? O cérebro do vento? Existo cem mil metros abaixo da terra? Existo?

–Suponho que não tenhas visto, foste inundada pela enchente com as mãos entre os teus pelos púbicos, quente e húmido, o salgueiro lambia os teus mamilos, o campo visual da tua consciência amplificava-se, a tua língua esquecia-se do teu nome, os rumores expandiam-se na tua mente, as vozes altas estendiam as tuas mãos para frente, foste folheando as páginas do balcão, cada uma das páginas era uma fotografia de cabelos brancos olhando para as mãos perplexas tingidas de branco com uma etiqueta e uma abertura por trás.

Eras um gesso morto sobre um piano verde vertical, em breve chegará a tarde, as goteiras de água sobre o vidro, a volta da chave na fechadura, o volume apagando-se no pulso das teclas, a súbita lembrança do bege dos botões daquela menina a quem derramaram o café, a estabilidade do longo cravo na parede, de onde desapareceu a marca do nosso retrato...

A porta de saída fechada.

A porta de entrada fechada.

    Tudo permanece igual…​​ 


sexta-feira, abril 26, 2024

mihaela moscaliuc

 Self as Goat in Tree
 
Nine goats scamper up
the gnarly argan tree and graze it clean.
They ingest the wrinkled fruit whole,
though it’s the bitter pulp alone
that rouses their appetite for more.
Sated, they stare at the horizon
till branches wear thin and fall.
Farmers harvest goats’ droppings
to extract the pit rich in kernels of oil.
Haven’t you too wished yourself a goat
perched punch-drunk on a linden tree,
blasé about the gold you might shit,
how it might serve both hunger and greed.
Haven’t you goaded yourself
to balance just a bit longer,
chew on some fugitive scents,
forget what a ditch the earth is.
 
 
 
 
Eu como cabra numa árvore
 
Nove cabras trepam
à retorcida argânia e pastam-na totalmente
Engolem a fruta enrugada toda,
embora seja apenas a polpa amarga
que desperta seu apetite por mais.
Saciados, olham para o horizonte
até os ramos se desgastarem e caírem.
Os agricultores safram o excremento das cabras
para extrair a semente rica em grãos de azeite.
Não desejaste também estar uma cabra
empoleirada bêbada numa árvore de tília,
a leste do ouro que podias poiar
Servindo quer a fome quer a ganância
blasé sobre o ouro que você pode cagar,
como pode servir tanto a fome quanto a ganância.
Não te instigaste a ti mesmo
a equilibrar-te mais um bocado,
a mascar alguns aromas fugitivos,
a esquecer o fosso que a terra é.


quinta-feira, abril 25, 2024

olivia oropeza

 EL DILUVIO
 
Una poeta escribe de su madre:
 
Y la vida se cura en un diluvio
de luz contra el incendio
la lluvia nos bautiza
 
En este incendio que inició
mi madre al morirse
después de parirme
nunca llegará un diluvio
 
Las gotas que caigan
sobre el fuego
serán sólo sombras
 
alucinantes de calma
 
En este entierro al que acudo
cada día, donde mueres,
irremediablemente siempre,
madre, está lloviendo
 
La llovizna, una esperanza
un dibujo de tu silueta
joven y eterna
 
Y el diluvio que acaba con tu incendio
no es tu madre, madre, sino tu hija
 
que renace de la tierra
y retoma tu vida extinta,
y se llama muerte
 
y lleva tu nombre
 
y no se salva
 
 
 
 
 
O Dilúvio
 
Uma poeta escreve de sua mãe:
 
E a vida cura-se num dilúvio
de luz contra o incêndio
a chuva nos batiza-nos
 
Neste incêndio que iniciou
a minha mãe ao morrer
depois de me parir
nunca chegará um dilúvio
 
As gotas que caírem
sobre o fogo
serão apenas sombras
 
alucinantes de calma
 
Neste enterro a que acudo
todos os dias, onde morres,
irremediavelmente sempre,
mãe, está a chover
 
A morrinha, uma esperança
um desenho da tua silhueta
jovem e eterna
 
E o dilúvio que acaba com o teu incêndio
não é a tua mãe, mãe, mas a tua filha
 
que renasce da terra
e retoma a tua vida extinta,
e se chama morte
 
e anda com o teu nome
 
e não se salva