segunda-feira, novembro 25, 2024

jessica zuan


Il barat
 
Tuot scu imagino:
not da december,
ün suler lung,
il cour vain e vo.
Tuot scu imagino:
üna sela,
ün let alv,
quadrels verds.
Na da prevzair:
üna lampa sur mias chammas sbrajazzedas.
A l’ur da l’aureola quatter custabs: sola.
Eau m’evr.
E pens vi d’üna s-chacletta da ruegen
e sun roudas sün üna salascheda, lej da serra, bouda.
Eau pens al vegl poet chi am disch posso
e sun absenza.
E pens: la maternited es ün vstieu mellan cun üna macla d’öli
e sun l’ultim mumaint da suldüna.
Our da mieus leivs iflos cula saung a filun
e nu d’he laungia per pudair at numner.
Pür tieu clam fo tschuncher ils chantins –
e nus barattains üna vita per üna poesia chi nu’s serra.
 
 
 
 
A troca
 
Tudo como imaginei
noite de dezembro,
um longo corredor,
o coração vai-e-vem.
Tudo como imaginei:
uma sala,
uma cama branca.
azulejos verdes.
E o imprevisto:
uma lâmpada sobre as minhas pernas abertas
no limite da auréola cinco letras: única.
Abro-me.
E penso numa pequena caixa de ferrugem
e sou pneus no pavimento, represa, deslizamento de terra.
Penso no velho poeta que me disse posso
e sou ausência
Penso: a maternidade é um vestido amarelo com uma mancha de óleo
e no último momento de solidão.
Dos meus lábios inchados correm rios de sangue
e não tenho língua para te conseguir dar nome.
Só o teu grito rasga as cordas
e trocamos uma vida por um poema que não remata.