sábado, dezembro 14, 2024

melissa valverde gamboa

 
                         A las plantas que no sobrevivieron.
 
Antes tenía mala mano,
todas las plantas que traía conmigo,
salían en una bolsa negra para la basura.
Para poder cuidarlas
tuve que aprender a querer mis ojeras.
Darme cuenta que esta especie
necesita del incendio del mediodía,
sentirse empática
y dejar de fingir sobriedad.
Hoy solo quiero
dejar mi cuerpo morir un poco,
mojarlo en mis propias aguas
y consumirlo en su tierra.
Buscar lo que me embriaga.
Gracias a las plantas,
cuido mis manos
porque sé que son semillas
y encomiendo mis latidos ingenuos al sol
para con cada palabra poderme sanar.
 
 

 
 
                      Às plantas que não sobreviveram.
 
Antes eu tinha má mão,
todas as plantas que trazia comigo,
saíam num saco preto para o lixo.
Para poder tratar delas
tive de aprender a amar as minhas olheiras.
Perceber que esta espécie
precisa do incêndio do meio-dia,
sentir empatia
e parar de fingir sobriedade.
Hoje só quero
deixar o meu corpo morrer um pouco,
molhá-lo nas minhas próprias águas
e consumi-lo na sua terra.
Procurar o que me embriaga.
Graças às plantas,
trato das minhas mãos
porque sei que são sementes
e eu confio os meus batimentos ingénuos ao sol
para com cada palavra me poder curar.
 

sexta-feira, dezembro 13, 2024

francely saharith navarro


ETERNA
 
Voy a cerrar la puerta del cuarto por un tiempo,
ahora mi mama ocupa la casa y ya no necesito
ser humana. Fin.
 
Aquí seré escamas de pescado esparcidas por el suelo,
una manta de algodón olorosa a formalina,
una telaraña en la pared o una sombra de conejo,
seré polvillo, gotera, una canasta de ropa blanca
con olor a moho, seré cualquier cosa en este espacio pequeño,
donde no alcanzan más de cero y menos que nada.
 
Y desde la ventana, si es que me quedan ojos
después de un siglo, podré verla tomando
las riendas de mis muertes, regando mis destinos,
cocinando siempre lo mismo por si decido salir
a cortar estrellas, por si todas mis partes se unen
para salvarme.
 
Ella sabe que no nací ni envejecí bien,
que al final me oculté de los niños y sus preguntas,
niños crueles que roban soledades, que después de
enterrar al último perro, busqué acuarios a la vuelta
de la esquina y jamás aparecieron…
que huí de las palabras y las reuniones,
despejando cementerios e iglesias de mi presencia,
cada vez más, cada vez más conflictiva y más rugosa,
malvivida…
 
Ya la puerta está cerrada, aquí está ella,
desde ahora ocupa la casa que soy,
como si yo no fuera un monstruo.
 
 
 
 
ETERNA
 
Vou fechar a porta do quarto por uns tempos,
agora a minha mãe ocupa a casa e já não preciso
de ser humana. Fim.
 
Aqui serei escamas de peixe espalhadas pelo chão,
uma manta de algodão com cheiro de formalina,
uma teia de aranha na parede ou uma sombra de coelho,
serei poeira, goteira, uma canastra de roupas brancas
com cheiro a mofo, serei qualquer coisa neste pequeno espaço,
onde não atingem mais do que zero e menos do que nada.
 
E da janela, se ainda tiver olhos
após um século, eu posso vê-la tomar
as rédeas das minhas mortes, a regar os meus destinos,
cozinhando sempre o mesmo caso eu decida sair
para cortar estrelas, caso todas as minhas partes se unam
para me salvar.
 
Ela sabe que não nasci nem envelheci bem,
que no fim me escondi das crianças e das suas perguntas,
crianças cruéis que roubam soidões, que depois
de enterrar o último cão, procurei aquários no
canto e nunca apareceram...
que eu fugi das palavras e das reuniões,
limpando cemitérios e igrejas da minha presença,
cada vez mais, cada vez mais conflituosa e mais áspera,
subvivente...
 
Já a porta está fechada, aqui está ela,
a partir de agora ocupa a casa que sou,
como se eu não fosse um monstro.
 

quinta-feira, dezembro 12, 2024

valeria burgos nascimento


Sangre materna
 
Soy exilio del cuerpo de mi madre
la escucho llorar en mis huesos
pero no logro que mi piel se abra y me deje entrar
para que mi mamá me consuele del revés de su mano contra mi cara,
de su letra que con sangre entra y del miedo a recordar la difunta primavera.
Mi mamá trata de cocer la herida de mi nacimiento con las manos de dios
pero ella nos inunda de sangre seca y un llanto amargo.
Y yo no logro escapar de la sangre de mi mamá
 
 
 
 
Sangue materno
 
Sou exílio do corpo da minha mãe
ouço-a chorar nos meus ossos
mas não consigo que a minha pele se abra e me deixe entrar
para a minha mãe me consolar com o reverso da sua mão no meu rosto,
com a sua letra que com sangue entra e do medo de lembrar a defunta primavera.
A minha mãe trata de cozer a ferida do meu nascimento com as mãos de deus
mas ela inunda-nos de sangue seco e de um choro amargo.
E eu não consigo escapar ao sangue da minha mãe.


quarta-feira, dezembro 11, 2024

patrizia baglione


Da questo punto della finestra
guardo profili nuovi
sembrano pozzi senza fondo
o sagome sfortunate
se posso ti lascio la casa del giorno
e senza ritorno ti abbraccio.
 
 
 
Deste ponto da janela                       
olho novos perfis
parecem poços sem fundo
ou silhuetas infelizes
se puder deixo-te a casa do dia
e abraço-te sem regressar.

terça-feira, dezembro 10, 2024

dorothée volut


Puisque le dehors n'existe plus
j´ai arrêté ma voiture
pour faire feu de tout bois
 
Comme nous parlions ensemble
de remplacer le verbe accoucher
par le verbe enfanter,
j´avais arrêté le moteur
pour tracer ces lignes
dans lesquelles aucun ordre
ne demandait à être remis à sa place
 
Nous mangions des fraises
et ces phrases mal formées
 
La route obstruée par des travaux
en même temps qu’au village le glas
avait sonné, m’avait enfin ralentie
 
Qui recueillerait
ces instants juste après que
Quelque chose a circulé -
des choses informes appelées à naître
un poème par exemple
 
Parce que nos corps parlent
jusque dans nos cécités scabieuses
j’étais sans doute née
pour ce genre de rituels:
 
être juste une femme
comme toi et moi,
qui s’arrête dans les bois
pour redevenir
membre de sa langue.
 
Une matière de fleur,
pétrie
dans la chair du pétale.


 
 
Dado que o redor já não existe
parei o meu carro
para usar todas as minhas armas
 
Como falávamos em conjunto
em substituir o verbo parir
pelo verbo gerar,
tinha parado o motor
para traçar as linhas
em que nenhuma ordem
pediu para ser posta no seu lugar
 
Comíamos morangos
e estas frases mal formadas
 
A estrada obstruída pelas obras
ao mesmo tempo que na aldeia o sino
tocava, fez-me por fim abrandar
 
Quem recolheria
esses instantes exatamente depois de
Qualquer coisa circulou -
coisas sem forma chamadas a nascer
um poema por exemplo
 
Porque os nossos corpos falam
até dentro das nossas cegueiras escabrosas
tinha sem dúvida nascido
para este tipo de rituais:
 
ser simplesmente uma mulher
como tu e eu,
que pára na floresta
para voltar a ser
membro da sua língua.
 
Uma matéria de flor,
amassada
na carne da pétala.
 

segunda-feira, dezembro 09, 2024

sue goyette

  
Eighteen
 
Some believed the ocean wasn’t alway salty but that our ancestors
had been very sad. They’d been promised a great many things
 
only to have the fruit drop and their breasts sag. They cried
a lot. When they looked up and bemoaned their fate,
 
claiming they’d done nothing to deserve all of this roadkill,
the exhaust from their undeservedness formed a talk show
 
of rain clouds. When they looked upon the ground
and beseeched their feral happiness to stop chewing
 
at their feet, their displeasure seeded gout weed and prehistoric
thorned things. In this way, our boats were the original forms
 
of escape and self-help. At first we floated on our ancestors’ sadness,
the waters rife with the salt of their tears, but then,
 
vivre l’evolution, those tears sprouted gills and tails
and small, watchful eyes. It isn’t entirely accurate to say
 
we ate those fish but more like accepted that which we’d inherited.
What we hadn’t anticipated was how the eyes of those original tears
 
would persist, how they’d keep watching.
 
 

 
 
Dezoito
 
Alguns achavam que o oceano não fôra sempre salgado, mas que os nossos antergos 
foram muito tristes. Fôra-lhes prometido muitas e grandes coisas
 
 para que a fruta ombasse e os seus seios descaíssem. Choraram
muito. Quando olharam para cima e se queixaram do seu destino,
 
alegando nada terem feito para merecer todo esse atroplemento mortal
o exutório do sua indignidade formou um talk show
 
de nuvens de chuva. Quando olharam para a terra
e imploraram a sua felicidade feral para deixar de morder
 
os seus pés, o seu desprazer semeou sabugueiro-anão e pré-históricas
coisas espinhosas. Nesta matriz, os nossos barcos eram as formas originais
 
de fuga e auto-ajuda. No início flutuamos na tristeza dos nossos antcestros,
as águas abundantes do sal das suas lágrimas, mas então,
 
vivre l'evolution, aquelas lágrimas brotaram brânquias e caudas
e  pequenos olhos vigilantes. Não é inteiramente exato dizer
 
que comemos esses peixes, melhor dizer que aceitamos o que herdamos.
O que não tínhamos previsto foi como os olhos daquelas lágrimas originais
 
persistiriam, como continuariam a observar.


domingo, dezembro 08, 2024

judith bosch


Corrupción divina
 
—En este documento firmaré trescientos años para el individuo A-7890657 —le indica Dios a la Madre Naturaleza—. Pero sólo le daremos sesenta; yo me quedaré con ciento cuarenta y tú te quedarás con 100.
—Pero, señor —espeta la Madre Naturaleza—, ¿no le parece un tanto exagerado? Tenga en cuenta que el Carbono y el Oxígeno también querrán chupar del bote.
—En ese caso, siento mucho desde ya, el precoz fallecimiento del individuo A-7890657.
—¿Y no podríamos quedarnos nosotros con menos parte del presupuesto y así lo dejamos vivir más?
—Pero bueno… ¿Y de qué cree usted que va a alimentarse mi inmortalidad?, ¿de aire?
 
 
 
 
Corrupção divina
 
—Neste documento a minha assinatura determinará trezentos anos para o indivíduo A-7890657 - indica Deus à Mãe Natureza. Mas só lhe daremos sessenta; eu ficarei com cento e quarenta e tu ficarás com 100.
— Mas, senhor - retruca a Mãe Natureza-, não lhe parece um pouco exagerado? Não se esqueça que o Carbono e Oxigénio também vão querer mamar do pote.
- Nesse caso, lamento muito desde já, pela morte prematura do indivíduo A-7890657.
- E não poderíamos ficar com uma parte mais pequena do orçamento e assim deixá-lo viver mais?
-Ora bem... e do que você acha que se vai alimentar a minha imortalidade? de ar?


sábado, dezembro 07, 2024

rocío del águila gracey


Hay muertos que aún me reclaman
un trozo de pan
para saciar
el hambre eterna
Y este encierro no podrá borrarlos.
 
 
 
Há mortos que ainda reclamam de mim
um pedaço de pão
para saciar
a fome eterna
E esta cerca não os conseguirá apagar.
 

sexta-feira, dezembro 06, 2024

marcia mendieta estenssoro


hacia la médula hacia
la puerta de esa casa
echada llave
 

vazia até à medula
a porta daquela casa
fechada à chave