sexta-feira, setembro 20, 2024

judith butler

 No one is imagining the future very well. And when we try, it feels like a nightmare. The specter of fascism is often invoked on the Left, yet we are no longer sure whether that is the right name. On the one hand, the term is bandied about too easily. On the other hand, we would be wrong to think that all its possible forms have already existed and that we can call something “fascist” only if it conforms to established models. Imagining the future is not precisely a prediction. Imagining does not take place only in the mind. It requires an object, a medium, a sensuous form of expression. Imagining the future is more like the release of a potential through a sensuous medium, where the medium is not a simple vehicle for an already formed idea, but an idea that takes hold and assumes shape, sound, and texture, releasing a potential of its own.

 
No one really wants to imagine the future except those who foresee their businesses expanding and their capital accumulating, who see the future as the horizon of their own increasing power. To think that way is to not care whether that form of accumulation comes at the expense of the earth, other lives, or life in all its forms. And yet, in our acts and practices, we do implicitly reproduce an idea of the future, whether or not we know precisely what it is. We live this way now, assuming that living this way is the way to live, and once that repeated practice becomes a way of life, it comes to look like the way things simply are, or ought to be. But when the way of life that is reproduced destroys all ways of life, including its own, one has to ask how the pursuit of destruction is carried out by practices that are considered to be the way things just are, or have to be.
 
Climate destruction is the most terrifying example. It teaches us, however, not only that many now live with a fear of destruction that their way of life has helped to produce. It teaches us also that many have no idea how to live with that fear of destruction, which is a fear not only about the future in which events can happen at all but also about what is happening now, and what has been happening for some time. We look, we look away; we know, we fail to know. We live in the anxiety produced by knowing that we are not knowing what we secretly should and do know.
 

 
 
Ninguém está a imaginar o futuro muito bem. E quando tentamos, parece um pesadelo. O espectro do fascismo é frequentemente invocado na esquerda, mas já não temos a certeza de ser esse o nome certo. Por um lado, o termo é usado com muita facilidade. Por outro lado, estaríamos errados em pensar que todas as suas formas possíveis já existiram e que podemos chamar algo de “fascista” apenas se estiver de acordo com modelos estabelecidos. Imaginar o futuro não é exatamente uma previsão. Imaginar não acontece apenas na mente. Requer um objeto, um meio, uma forma sensorial de expressão. Imaginar o futuro é mais como a libertação de um potencial através de um meio sensorial, onde o meio não é um simples veículo para uma ideia já formada, mas uma ideia que se afirma e assume forma, som e textura, libertando um potencial próprio.
 
Ninguém quer realmente imaginar o futuro, exceto aqueles que preveem a expansão dos seus negócios e a sua acumulação de capital, que veem o futuro como o horizonte do seu próprio poder em ascensão. Pensar dessa forma é não se importar se essa forma de acumulação vem às custas da Terra, de outras vidas ou da vida em todas as suas formas. E, no entanto, pelos nossos atos e práticas, reproduzimos implicitamente uma ideia do futuro, quer saibamos ou não  o que é. Vivemos desse modo agora, assumindo que viver dessa maneira precisamente é a modo de viver, e uma vez que essa prática repetida se torna uma forma de vida, ela passa a ser percecionada como a maneira como as coisas simplesmente são, ou deveriam ser. Mas quando o modo de vida que é reproduzido destrói todos os modos de vida, incluindo o seu próprio, é preciso perguntar como a demanda pela destruição é realizada por práticas que são consideradas como a maneira como as coisas simplesmente são, ou têm que ser.
 
A destruição climática é o exemplo mais assustador. Ensina-nos, no entanto, não apenas que muitos agora vivem com medo da destruição que o seu modo de vida ajudou a produzir. Ensina-nos  também que muitos não têm ideia de como viver com esse medo da destruição, que é um medo não apenas sobre o futuro em que os eventos podem acontecer, mas também sobre o que está a acontecer agora e o que tem vindo a acontecer já há algum tempo. Olhamos, desviamos o olhar; sabemos, deixamos de saber. Vivemos na ansiedade produzida por sabermos que não estamos a saber o que secretamente deveríamos saber e fazer.