quarta-feira, abril 24, 2024

hortense raynal


faire poésie, c’est détruire la maison. la maison domestique. à moins que faire poésie, ce soit jamais construire de maison. et oui et oui, plus d’abri, plus d’abri. t’as cru quoi, la poésie elle est pas casanière non, non. pire que ça : elle a pas de maison. alors casanière, non, même pas envisageable la casa, même pas envisageable rester à la casa sous la couette. juste le DEHORS destruction de la maison, allez. pour se faire fumier faut aussi éjecter. broyer. la poésie, pas qu’une force créatrice non, non. force destructrice, oui, oui. dur à écrire, dur à dire ce mot – celui-là tu l’as pas encore compris. ni la lettre x – destrc, strc, trice, srix. struc. est-ce que la poésie c’est c’truc ? c’truc-là que j’vous donne maintenant ? complètement détruit comme ma maison ? où est ma maison ? j’ai plus de maison. ai détruit. est-ce que c’est ça poétesse détruire détruire détruire détruire
 

 
 
fazer poesia é destruir a casa. casa doméstica. a menos que fazer poesia seja nunca construir uma casa. e sim e sim, mais abrigo, mais abrigo. pensaste o quê, a poesia não é caseira, não. pior que isso, não tem casa. por isso caseira não, nem sequer a casa é uma opção, nem sequer é possível ficar na casa debaixo do edredão. apenas o EXTERIOR destruição da casa, vá lá. para fazer bostaé necessário  também ejetar. esmagar. a poesia, não uma força criativa não, não. força destrutiva, sim, sim. difícil de escrever, difícil de dizer essa palavra - isso  ainda não percebeste. nem a letra x - destrc, strc, trice, srix. struc. é a poesia essa coisa? essa coisa que te dou agora? completamente destruído como a minha casa? onde está a minha casa? já não tenho casa. Destruí. é isso poetisa destruir destruir destruir destruir


terça-feira, abril 23, 2024

yana wayta


La infertilidad de mi madre
 
Ser hija
es creación de algún dios errado.
He sido concebida,
pero me amarraron a los tres años
con el fin de protegerme de malos vientos
y demonios andinos.
La oscuridad estuvo siempre cerca,
deseosa de nuestros espíritus,
hambrienta de la sangre comunal
derramada en la guerrilla sobre nuestros ríos.
Mi madre, se ahogaba en su seno
con toda la leche que no podría darme después
por la enfermedad del miedo
por el veneno en mi semilla.
 

 
 
A infertilidade da minha mãe
 
Ser filha
é criação de um deus errado.
Fui concebida,
mas amarraram-me aos três anos
para ficar protegida dos maus ventos
e demónios andinos.
O escuro esteve sempre perto,
desejoso dos nossos espíritos,
faminto de sangue comunal
derramado na guerrilha sobre os nossos rios.
A minha mãe afogava-se no seu seio
com todo o leite que não me podia dar depois
pela doença do medo
pelo veneno na minha semente.
 

segunda-feira, abril 22, 2024

dora moro


La urbanidad y la crianza
 
Niños urbe esos extraños y reconocidos a la vez.
Punto de partida para la creatividad y la destrucción.
Ambos, dúos, dobles espejos de una esfera argentina habitantes del ego en donde poco se descansa.
Urbe niños, sentencias de máquinas a previsión o aceleración del futuro que llegó en el diecinueve.
Niños urbe, hombres máquinas del tiempo, como pasadas palabras, máquina, heredad, orfandad, urbe de chimenea con bocanadas de posmodernidad.
A quién le importa la definición de la infancia urbe si emerge en cuatro ruedas,
en cada esquina,
ya raros en cuatro patas ya inéditos en pie.
De nacimiento, de eso murió, murió de nacimiento.
 

 
 
A urbanidade e a criação
 
Crianças urbe esses estranhos e reconhecidos ao mesmo tempo.
Ponto de partida para a criatividade e destruição.
Ambos, duplos, duplos espelhos de uma esfera argentina habitantes do ego onde pouco se descansa.
Urbe crianças, sentenças de máquinas a previsão ou aceleração do futuro que chegou em dezanove.
Crianças urbe, homens máquinas do tempo, como passadas palavras, máquina, herança, orfandade, urbe de chaminé com baforadas de pós-modernidade.
A quem importa a definição da infância urbe se emerge em quatro rodas,
em cada esquina,
já raros em quatro patas já inéditas em pé.
De nascimento, disso morreu, morreu de nascimento.
 

domingo, abril 21, 2024

marisa calero

 Bendita imperfección
 
Aprendí las palabras como un maná de almíbar
que descendiera lento sobre mi raciocinio
y acabara enredado en mi garganta
saciando, al respirar, el hambre de mis ojos.
 
Crecí con ellas dentro,
fueron mis alas, mi música, mis horas.
Siempre temí soltarles las amarras
por si alzaban el vuelo en un descuido
con un temblor de pájaro o cometa
y, huérfana de verbos y de nombres,
volviera yo al primitivo caos.
 
Nunca son bienvenidos mis silencios.
Lo sé.
Y sé que las palabras se comparten
como comparto el pan, o la tristeza.
Pero ¿cómo dejar salir a las que siento mías
y son, al fin, la herencia de mis antepasadas?
 


 
Bendita imperfeição
 
Aprendi as palavras como um maná em calda
que descesse lento sobre o meu raciocínio
e acabasse enredado na minha garganta
saciando, ao respirar, a fome dos meus olhos.
 
Cresci com elas dentro,
foram as minhas asas, a minha música, as minhas horas.
Sempre tive medo de soltar as amarras
caso levantassem voo por descuido
com um tremor de pássaro ou cometa
e, órfã de verbos e de nomes,
voltasse ao caos primitivo.
 
Nunca são bem-vindos os meus silêncios.
Bem sei.
E sei que as palavras se partilham
como partilho o pão, ou a tristeza.
Mas como deixar sair aquelas que sinto minhas
e que são, afinal, a herança das minhas antepassadas?