segunda-feira, dezembro 23, 2024

vania galvez


Tiempo de sequía
 
yo podía llorar
solía tener ríos en las mejillas
en mi regazo caían
caudales de agua tibia
 
quisiera llorar hoy
no tener un nudo ingrato
hacer arder mis ojos
masoquismo con alivio
paliativo necesario
 
yo podía llorar
no tener solo gotas vacías
emanar fuerza hidráulica
ligera en mis noches tardías
 
quisiera hoy llorar
tener algún afecto
sentir mucho más
y no morir tan lento
 

 
 
Tempo de seca
 
conseguia chorar
costumava ter rios nas bochechas
no meu regaço caíam
caudais de água morna
 
gostava de chorar hoje
não ter um nó ingrato
por a arder os meus olhos
masoquismo com alívio
paliativo necessário
 
tinha capacidade de chorar
não apenas gotas vazias
emanar força hidráulica
leve nas minhas noites tardias
 
gostaria de chorar hoje
ter algum afeto
sentir muito mais
não morrer tão lentamente
 

domingo, dezembro 22, 2024

blanca riestra


A la vuelta de la esquina
te espera el reconocimiento final
el vendaval negro, luminoso
el socavón definitivo
el crimen acerbo
 
pero nada anuncia
nunca nada
sobrevuela
una calma cenagosa
la pesadez de lo detenido
que no avanza
 
 

 
Ao virar da esquina
espera-te o reconhecimento final
o vendaval preto, luminoso
a cratera definitiva
o crime acerbo
 
mas nada anuncia
nunca nada
sobrevoa
uma calma pantanosa
o peso do detido
que não avança
 

sábado, dezembro 21, 2024

alba gonzález

tus errores te hacen ser quien eres ahora
 
qué tan malo sería
ser alguien diferente
a quien soy
 
dicen eso
como
si ser quien soy
fuese algo bueno
 
***
 
el problema
está
en que no estás
en que quiero que estés
aunque eso me destroce más
 

 
 
os teus erros fazem-te ser quem és agora
 
Que mau sería
ser alguém diferente
de quem sou
 
dizem isso
como
se ser quem sou
fosse uma coisa boa
 
***
 
o problema
está
em que não estás
em que quero que estejas
embora isso me destroce mais
 

sexta-feira, dezembro 20, 2024

martyna Łogin-trenda


Tłumaczę jej wiersze
 
a wystarczyłoby zaryzykować
za dziesięć lat stwierdzić
nie pamiętam
podczas gdy świat
będzie wysychał
 
tymczasem
oszczędzam czułość
 
słowniki wtulają się we mnie
jak drobne ssaki
 
 
 
 
Traduzo os seus poemas
 
embora bastasse aceitar o risco
dentro de dez anos verificar
não me lembro
enquanto o mundo
vai murchando
 
entretanto
reservo a ternura
 
Os dicionários aninham-se dentro de mim
como pequenos mamíferos
 

quinta-feira, dezembro 19, 2024

emmanuelle gondrand


Palmyre
 
Dans l’atelier presque nu
Le jeune mécanicien inventa la pièce
Et disparut
Poussant un pneu
Comme on distrait un cœur lourd
Par les rues larges à digérer une prison.
 
Au mur de l’oasis
Il faut être bien espiègle pour passer
Ou l’enfant comme l’eau façonnant son chemin.
 
Les hommes
Seuls
Talons agiles
Abritent dans leurs manches le savoir bruni.
Ils peuvent le soir lever la tête
Vers les mains des arbres s’offrant le dernier soleil.
 
Là-bas, les ruines sont de nos rêves faites, debout.
Par leurs pores la terre roule sa fierté de nous porter encore.
 
 
La brute ignore
 
Qu’en explosant
 
Le sourire des siècles rejoint la lune énorme
 
Qui tient les comptes.
 

 
 
Palmyre
 
Na oficina quase nu
O jovem mecânico inventou a peça
E desapareceu
Empurrando um pneu
Tal como se distrai um coração pesado
Pelas ruas amplas digerindo uma prisão.
 
Diante do muro do oásis
É necessário ser muito endiabrado para passar
Ou criança como a água moldando o seu caminho.
 
Os homens
Sózinhos
Calcanhares ágeis
Abrigam nas mangas o saber brunido.
Podem à noite levantar a cabeça
Para as mãos das árvores oferecendo o último sol.
 
O bruto não sabe
 
Que ao explodir
 
O sorriso dos séculos se junta à lua enorme
 
Que faz as contas.
 

quarta-feira, dezembro 18, 2024

andrea franco


el prospecto decía una alucinación
del movimiento o la pérdida
parcial de toda orientación y vos
hubieras cambiado
   mi inconsistencia por la tuya
las manos
   para agarrarme tus síntomas
hubieras hecho nudos toda la noche
en entrega al misticismo
juntado dieciséis cauris
una piedra negra
huesos hasta una cabecita rota
de muñeca
 

 
 
o folheto dizia uma alucinação
do movimento ou a perda
parcial de toda a orientação e tu
tivesses mudado
            a minha inconsistência pela tua
as mãos
           para ficar com os teus sintomas
tivesses feito nós a noite toda
em dedicação ao misticismo
junta dezasseis buziozinhos
uma pedra negra
ossos para uma cabecinha rachada
de boneca
 

terça-feira, dezembro 17, 2024

héloïse brézillon


une lueur me prend à l’estomac. je veux comprendre. les cortégraphes expliquent, schémas à l’appui. à votre naissance, votre mémoire n’était rien de plus qu’un peu de gaz au fond de vos yeux. pour se constituer, faire matière, la mémoire agrège autour d’elle toutes les poussières présentes dans son environnement : poussières issues des bouches des parents, des bouches des grands-parents, des bouches du reste de la famille, des bouches des voisinexs, des bouches des présentateuricexs, du journal de 20h, des bouches des adorables cochons dans les livres d’histoires avant de s’endormir, des bouches des copainexs, des couinexs, des idoles… oui, toutes les bouches font de la poussière pour constituer la planète qui vous servira de mémoire durant la vie entière. son sol est composé des grains de toutes les voix que vous avez entendues jusqu’à l’âge de 7 ans. après ça, eh bien, ça reste stable. c’est d’ailleurs à ce moment-là que les souvenirs cessent de s’enfuir.
 


 
um brilho prende-me no estômago. quero compreender. os cortógrafos explicam, esquemas de apoio. ao nascer, a sua memória era apenas um pouco de gás no fundo dos seus olhos. para se constituir, fazer matéria, a memória agrega em seu torno todas as poeiras presentes no seu ambiente: poeiras saídas das bocas dos pais, das bocas dos avós, das bocas do resto da família, das bocas da vizinhança, das bocas de pivots do jornal das 20h, das bocas dos adoráveis porcos nos livros de histórias antes de adormecer, das bocas das companhias, da grunhice, dos ídolos... sim, todas as bocas fazem poeira para constituir o planeta que servirá de memória durante toda a vida. o seu solo é composto pelos grãos de todas as vozes que vocês ouviram até à idade dos 7 anos. depois disso, pois bem, permanece estável. aliás, é nesse momento que as memórias deixam de fugir.
 

segunda-feira, dezembro 16, 2024

margarita laso


Orca
 
Esta orca emerge de las profundidades.
De los líquidos oscuros y sus arcos.
De las bóvedas salinas de mi abismo.​​
De mis polos donde queman el frío y los naufragios.​​
Brota maciza. Eléctrica.
Turbina que bate su formidable cuerpo.​​
Dos colores en toda mi carnaza.
En la pulpa que has querido desosar.
Como quien viene de lejos crece ante tus ojos.
Exhala las piezas de tu asombro.​​
Esos rastros de sangre en el océano.
Pócimas íntimas.
 
 
 
 
Orca
 
Esta orca emerge das profundezas.
Dos líquidos escuros e seus arcos.
Das abóbadas de sal do meu abismo.
Dos meus pólos onde queimam o frio e os naufrágios.
Brota maciça. Elétrica.
Turbina que bate o seu formidável corpo .
Duas cores em toda minha carniça.
Na polpa que quiseste desossar.
Como quem vem de longe cresce diante dos seus olhos.
Exala as peças do teu espanto.
Esses vestígios de sangue no oceano.
Poções íntimas.
 

domingo, dezembro 15, 2024

flor bárcenas feria


El agua de los sueños
 
Rotas están las puertas de la tierra.
Czelaw Milosz
 
Pescar del agua del sueño una puerta abierta
que te lleve al patio de tu infancia
para decirle a tu padre que no sacrifique animales frente a ti
que no haga pactos con tu dolor para honrar su apellido
ni que use el patio para festines con tiros al aire
mientras tu fragilidad es descubierta sola
delante de tu garganta
solo escuchada por el río.
 
Abrir la puerta
y detener siete veces la mano de tu padre
y siete veces perdonarle
y siete veces escribirle el mensaje en su sangre:
La infancia hala como la criatura blanca
ahogada en el centro del río.
 

 
 
A água dos sonhos
 
Quebradas estão as portas da terra.
Czelaw Milosz
 
Pescar da água do sonho uma porta aberta
que te leve ao pátio da tua infância
para dizer ao teu pai que não sacrifique animais diante de ti
que não faça pactos com a tua dor para honrar o seu apelido
nem use o pátio para festejar com tiros para o ar
enquanto a tua fragilidade é descoberta sozinha
diante da tua garganta
apenas ouvida pelo rio.
 
Abrir a porta
e deter sete vezes a mão do teu pai
e sete vezes o perdoar
e sete vezes escrever a mensagem no seu sangue:
A infância é como a criatura branca
afogada no centro do rio.