quarta-feira, novembro 06, 2024

chiamaka enyi-amadi


Fear
 
Once upon a time a young child
drifted off to sleep, curled up
on her father’s warm chest as was
the predictable end of their nightly
ritual of storytelling, she slept and
dreamt all night long of an animal
named Fear who caught and swallowed
her on her way back to her father’s
voice, clasping its coarse red claws
around her eyes, pouring a whisper
soft as smoke
into her ear, “you have lost your way
child, never to return
back to the world”, true enough
the road she had followed, illuminated
by the velvety glow of her night-light,
no longer lay before her wide eyes,
and without warning reality
vanished as a thin line drawn
in sand, swiftly carried away
by an inpatient wind.
 

 
 
Medo
 
Era uma vez uma pequena criança
a adormecer, enrolada
no calor do peito do pai como
era de esperar no fim do ritual
noturno de contar histórias, ela dormiu
e sonhou toda a noite com um animal
chamado Medo que a agarrou e a engoliu
quando voltava para a voz do
pai, pressionando as suas garras vermelhas e grossas
à volta dos seus olhos, bafejando um murmúrio
macio como fumo
no seu ouvido, “perdeste o teu caminho
criança, para nunca mais voltares
ao mundo”, genuíno
o caminho que ela tinha andado, iluminada
pelo aveludado brilho do seu abajur,
já não estava diante dos seus olhos
não mais aparecia diante de seus vastos olhos,
E, sem avisar, a realidade
evaporou-se como uma fina linha desenhada
na areia, rapidamente levada
por um  vento hospitalizado.


terça-feira, novembro 05, 2024

paula arbona sánchez


Extiende las piernas de tu dolor
que yo lameré sus esquinas
hasta que se corran en mi boca
como lo haría un helado de canela.
Permíteme chupar
tus paredes de seda,
las arrugas en tu alfombra,
el sexo de las flores en tus ojos.
Hacerte el amor es venir confundida
de la tierra al cielo, como una golondrina.
Es pinchar el río hasta que sus ojos rían
de las cosquillas, del sonido
que dejamos sobre la hierba,
cuando agotados, miramos el mar
y lo hemos vuelto vino.
 
 

 
 
Estende as pernas da tua dor
que eu lamberei as suas pontas
até se virem na minha boca
como um gelado de canela.
Deixa-me chupar
as tuas paredes de seda,
as rugas no teu tapete,
o sexo das flores nos teus olhos.
Transar contigo é ficar confusa
da terra ao céu, como uma andorinha.
É furar o rio até os seus olhos rirem
das cócegas, do som
que deixamos na relva,
quando esgotados, olhamos para o mar
e o tornamos vinho.


segunda-feira, novembro 04, 2024

liliana flores hilario


Desierto
 
Arena más arena y nos hundimos en el destierro
sol más sol y nos quemamos en silencio
palmera más palmera y nos quedamos sin frutos
edificio más edificios y nos quedamos ausentes.
 
A este cadáver le falta un trébol de cuatro hojas
yo soy la arena fría y cálida que se extiende
soy la palmera solitaria en una playa nocturna
y no un edificio con decoraciones superficiales
llevo la fuerza de la marea en una noche de lobos.
 
Desprecien mis ojos de arena más vidrio
tengo orgullo de paria que conquista la palabra
contengo el verbo del cosmos y creo mundos
quiero beber el viento con mi piel para expandirme
sostener el futuro con estas manos laceradas.
 
A este cadáver le crecen flores entre los huesos
y aunque a veces estoy triste hasta la médula
me sobra la fe en la palabra que me reinventa
existo a través del verso bajo la arena, a pesar del olvido.
 
Desprecien mis ojos, mis manos, mi alma, mi poesía
desde el dolor, la decepción y la resignación
se escribe mejor.
Despréciame así olvidaré sin titubeos ni esperanzas vanas
desde la miseria y el infortunio
se escribe mejor.
Arena más arena eso soy
 

 
 
Deserto
 
Areia e mais areia e naufragamos no desterro
sol e mais sol e ardemos em silêncio
palmeira e mais palmeira e ficamos sem frutos
edifício e mais edifício e ficamos ausentes.
 
A este corpo falta-lhe um trevo de quatro folhas
sou a areia fria e quente que se dissemina
sou a palmeira solitária numa praia noturna
e não um edifício com decorações de superfície
carrego a força da maré numa noite de lobos.
 
Desprezem os meus olhos de areia e vidro
tenho orgulho de pária que conquista a palavra
contenho o verbo do cosmos e crio mundos
quero beber o vento com a minha pele para me expandir
suster o futuro com estas mãos dilaceradas.
 
A este cadáver crescem-lhe flores entre os ossos
e embora às vezes esteja triste até à medula
resta-me a fé na palavra que me reinventa
existo através do verso debaixo da areia, apesar do esquecimento.
 
Desprezem os meus olhos, as minhas mãos, minha alma, a minha poesia
a partir da dor, a  deceção e a resignação
escreve-se melhor.
Despreza-me assim esquecerei sem hesitações ou esperanças vãs
a partir da miséria e do infortúnio
escreve-se melhor.
Areia e mais areia é o que sou
 

domingo, novembro 03, 2024

natalia montejo vélez


El reino de Salomé

 
Fue ella quien besó la cicatriz que separa
           /tu rostro del tronco del árbol.
Arrastró su cuerpo anfibio serpenteando
                            /en la hierba,
mientras dejaba escamas suspendidas
                    /en tu sexo invisible.
Con su humedad, formó el lago
                /que ahora rodea el reino
en el que habitan seres sin cuerpo,
deseosos de abrir puertas,
de entrar en ti,
de alimentarse de sal.
 
Fue ella quien avivó el movimiento
                           /de la tierra,
para que tu cabeza se descolgara
                           /de las ramas
y cayera en sus manos,
servida en una bandeja.
 
 
 
 
 
O reino de Salomé
 
Foi ela quem beijou a cicatriz que separa
           /o teu rosto do tronco da árvore.
Arrastou o seu corpo anfíbio serpenteando
                            /na relva,
enquanto deixava escamas suspensas
                    /no teu sexo invisível.
Com a sua humidade, formou o lago
                /que agora rodeia o reino
onde habitam seres sem corpo,
desejosos de abrir portas,
de entrar em ti,
de se alimentar de sal.
 
Foi ela quem avivou o movimento
                           /da terra,
para que a sua cabeça se desprendesse
                           /dos ramos
e caísse nas tuas mãos,
servida numa bandeja.

sábado, novembro 02, 2024

edurne batanero

 Dientes de leche
 
Llámame con un nombre unido a una muy antigua y olvidada ternura
Alejandra Pizarnik
 
Revives en este espacio
la ternura que perdemos
al salirnos los dientes,
al poder decir las primeras palabras
cuando solo nos guía la piel
y el conocimiento a través de nuestra boca.
 
Algún día te presentaré
a la niña que fui.
 
 

 
 
 
Dentes de leite
 
Chama-me com um nome ligado a uma muito antiga e esquecida ternura
Alejandra Pizarnik
 
Revives neste espaço
a ternura que perdemos
ao caírem-nos os dentes,
ao poder dizer as primeiras palavras
quando apenas nos guia a pele
e o conhecimento através da nossa boca.
 
Um dia vou apresentar-te
a criança que fui.
 

sexta-feira, novembro 01, 2024

kathryn bevis


Anagrams of Happiness
 
a gram of &s, after Terrance Hayes
 
It's in the damp whorl of biscuit-scented hair on the nape
of a newborn or in the mint of Sunday new potatoes which shine
under their lick of butter. It's watching for the phases
of the moon, the intentional way it swells and arcs, shrinks and spins;
it is your breath's humidity in this bed of ours, a solid ship
that rocks us in the dark, or in the steam that rises from the compost heap
on winter evenings. It's in the winking silk of a spider's web against the
misted pane
or in coffee, sweetened with its glob of honey, drunk outdoors in
smoking sips
from the Thermos lid. It's in our sense that, whatever happens
now is who we might become, this walk together in the woods, these
plump shapes
of dripping malachite moss, that fiddlehead of the fern's curled spine.
 

 
 
 
Anagramas de Felicidade
 
um grama de &s, segundo Terrance Hayes
 
 
Está na espiral húmida do cabelo  de biscoito-perfumado na nuca
de um recém-nascido ou na menta de domingo batatas novas que brilham
sob o seu lamber de manteiga. Está a observar as fases
da lua, a maneira intencional como ela incha e arqueia,
encolhe e roda;
é a humidade do seu hálito nesta a nossa cama, um navio sólido
que nos balança no escuro, ou no vapor que sobe do monte de compostagem
nas noites de inverno. Está no piscar seda de uma teia de aranha contra a
vidraça de neblina
ou no café, adoçado com o seu globo de mel, bebido ao ar livre em
goles de fumar
do Thermos lid. Está em nosso senso que, aconteça o que acontecer
agora é em quem nos poderíamos tornar, este passeio juntos na floresta, estas
formas gordas
de musgo malaquite a pingar, aquela cabeçaviolino da coluna ondulada do feto.